Ê, saudade…

Ê, saudade…

Eu sinto saudade. Faz parte de ser gente sentir aquele aperto no peito, aquele nó na garganta, pela simples lembrança de quem não está mais aqui ou do que já passou.
A casa em que eu nasci, e onde passei os primeiros anos da minha infância.
As bisnaguinhas com presunto e queijo que minha avó paterna fazia à tarde. A voz forte dela chamando todos os netos. Mas tinha que lavar as mãos primeiro.
Minha bisa sentada na cadeira lendo “Júlia” e “Sabrina”.
Meu pai antes da bebida.
Eu e minha mãe fazendo bola de sabão com talo de carrapicho.
Meu disco do Balão Mágico, da Arca de Noé e da Casinha de Brinquedo.
A saudade é um sentimento que nos humaniza. Ela não se prende ao desejo de conhecer terras distantes ou pessoas famosas (isso não significa nada!), mas nos pega pela mão e nos conduz pelas veredas da memória, trazendo à tona pessoas, lugares, cheiros, sons…
Minha bisa comigo ao colo, me ensinando a rezar. Eu com as mãos postas sob as mãos quentes dela, sem entender nada das palavras da oração, mas sabendo que se tratava de algo muito importante.
O cheiro do café passado, todo dia de tarde.
Os sons longínquos da risada dos meus primos.
Eu sinto saudade.
Dos meus honrados ancestrais, que não estão mais na Terra.
Das crianças que eu amei e que já cresceram.
Dos amigos que já tive mais perto.
Sinto saudades de mim.
E quando a saudade chega, eu não a reprimo. Paro um pouco o que estiver fazendo e deixo a nostalgia passar. Pois são esses breves momentos que me lembram que estou viva. Um dia, quando meu filho for um homem feito, acho que ele também vai se deixar ficar por alguns minutos a se se lembrar em silêncio de nós dois balançando na rede e cantando as músicas da Galinha Pintadinha. E será nesse momento que ele terá a certeza que sinto agora: a de que todos nós, tenhamos sido felizes ou não, fomos importantes para alguém.

Sobre interbella

Somente mais uma pessoa que faz escritas de si.
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