Hoje, domingo, 27 de novembro de 2011, depois de mais uma semana de árduas lutas, resolvi sintonizar o programa “O Consolador”, transmitido pela rádio Cariri AM (1160 KHz), em busca do que seu próprio nome indica – consolação, repasto para as dores da vida, através da palavra amiga e esclarecedora dos adeptos da Doutrina do Amor, que é o Espiritismo.
Contudo, não pude deixar de me chocar com algumas colocações da entrevistada de hoje, a nobre professora Socorro Paz, acerca da importância da família para a construção de uma sociedade melhor, mais apta a trazer para o campo da experiência os preceitos de uma Cultura de Paz. E é por esse motivo que registro aqui essas minhas palavras, sem ter com relação a elas outra pretensão que não seja a de desafogar o coração.
É inegável a relevância da convivência entre pais e filhos para que se edifique nesses últimos a base forte da cidadania, mas não podemos negar o fato de que, quanto a esta questão, também interferem aspectos outros, não necessariamente relacionados com a vontade ou com o nível de consciência dos pais. Infelizmente, o Reino de Deus ainda não veio para o nosso mundo, e precisamos pagar – e muito caro – para sobreviver e sustentar nossos filhos, não apenas no que diz respeito às suas necessidades espirituais, mas também àquelas ligadas ao plano físico.
Também sou professora universitária, não efetiva nem doutora como a entrevistada, por esse motivo tendo de trabalhar dobrado para perfazer as necessidades básicas de minha família. Conheço bem o dilema da aluna grávida que foi procurar a professora por confiar nela e admirá-la, sequiosa não por uma solução, mas por uma palavra de conforto.
Lamentavelmente, a nobre professora perdeu uma ótima oportunidade de exercer com essa aluna, que vivenciava as angústias e conflitos da gravidez de uma mãe que, além de trabalhar fora, ainda estudava à noite, de exercer a caridade, bandeira maior da Doutrina Espírita. Fico feliz que Socorro Paz faça parte dessa doutrina, pois certamente tem muito o que aprender com ela.
Além de professora e esposa, sou mãe de um bebê de quase dois anos que convive muito pouco comigo, por eu ter de trabalhar tanto. Compreendo que alguém pertencente à classe A tenha dificuldade em avaliar as atitudes e alcançar o ponto de vista de quem precisa lutar para sobreviver, mas considero que falar em uma rádio que pode ser ouvida em qualquer parte do mundo – visto que o programa “O Consolador” é transmitido também pela Internet – é tarefa de bastante responsabilidade, e deveria ser feita com muito amor. Se não pela doutrina, ao menos pelo ser humano. Pois só eu e Deus sabemos o que sinto quando tenho de deixar meu filho na casa da avó para passar o dia educando os filhos dos outros.
Não teria sido mais cristão responder à jovem grávida algo como o que Chico Xavier falou em gravação na abertura do programa? “Tenha fé, pois tudo passa”. Interessante observar que a passagem do Evangelho comentada pela distinta professora em sua entrevista, a da mulher adúltera, também se prestaria ao embasamento de uma urgente reflexão por parte dela própria e de todos nós. Lembremos que a sociedade dispunha de respaldo legal para dilapidar em praça pública a mulher que carregava nas costas um dos piores “pecados” da época: o adultério. Ao invés disso, Jesus sensibilizou os circunstantes para o não-julgamento, ao afirmar que somente aquele que não possuía faltas estava autorizado a atirar a primeira pedra.
Finalizo essas minhas palavras com um pedido. Não falemos, ao modo de fariseus, daquilo que não vivenciamos. O pior desserviço que podemos prestar à causa de se erigir uma Cultura de Paz, tão necessária e bem-vinda para pôr ordem no caos social que aí está, é acusar os outros e não valorizar ou ao menos respeitar sua experiência. Duvido muito que Jusus teria devolvido a pergunta da jovem grávida – “O que faço para criar meu filho?” com outra – “Você já escolheu quem vai ser a mãe dele?”. Creio que o melhor que podemos fazer é contunuar no aprendizado fundamental: o do Amor.